Surfe da Fé

quarta-feira, agosto 16, 2006

Revista Adventista - Espaço Jovem - Maio/2006
Marcelo Dias

Pessoalmente, sempre assumi que sou metropolitano. Sempre morei em cidades, e a maior parte do tempo, em grandes cidades. Portanto, alguns esportes litorâneos nunca foram apresentados para mim. O mais próximo que já morei de uma praia, foram os dois anos em que vivi na Califórnia, a uma hora de vários paraísos do surfe. Mas lá o oceano Pacífico é muito frio na maior parte do ano e isso servia bem de desculpa para não me envolver nessas aventuras. Se equilibrar, em pé, sobre uma prancha de surfe por exemplo, sempre esteve fora de cogitação.Portanto, a falta de oportunidades parecia aliar-se à falta de interesse.

Essa aliança, no entanto, começou a se enfraquecer em 2004, com o convite de alguns amigos a experimentar o esqui aquático em um lago de Massachusetts. A água nunca fora um mistério para mim, especialmente sem as ondas mais traiçoeiras do mar. Observando outros mais experientes, o desafio parecia pequeno – levantar-se da água, à medida que a lancha partia, equilibrando-se em pé sobre dois esquis e segurando o cabo preso à lancha que chegava a 35 km/h. Após alguns tombos, ali estava eu “andando sobre as águas” com relativa desenvoltura.

O próximo passo veio nas férias de verão deste ano, quando resolvi desafiar as ondas nas belíssimas praias de Santa Catarina. Ok, a prancha era de bodyboard, a versão do surfe em que você pratica deitado, o que faz o equilíbrio ser muito mais fácil (você não esperava que eu começasse pela mais difícil!) A empolgação era grande e a determinação também. A prancha e eu formávamos uma dupla e tanto -- muita confiança naquela peça aliada. O andar era de quem sabia o que ia fazer.

O primeiro passo foi nadar até o local onde as ondas estavam quebrando. Depois veio a hora de me preparar e esperar o momento certo de entrar na onda. Foram várias tentativas até eu começar a entender o momento certo de me posicionar na onda para poder dropar (o esforço incluiu até aprender alguns termos do esporte!).

Não muito satisfeito com o progresso obtido na água, decidi experimentar o que poderia fazer com uma prancha e as dunas de areia. Era a vez do esporte originado no Brasil, mas com nome em inglês, Sandboard. Agora foi mais fácil de ser impulsionado, afinal a força da gravidade fazia todo o esforço. O complicado era descer as dunas altas, em pé, se equilibrando (é verdade, existe a versão para quem quer ir sentado).

Após o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes, Jesus “obrigou os Seus discípulos a entrar no barco” (Mat. 14:22) e irem para o outro lado do Mar da Galiléia. As pessoas estavam tão maravilhadas com o milagre da multiplicação a ponto de que elas acharem que Jesus tinha de ser coroado rei naquele momento, por isso Jesus decidiu por uma retirada rápida. Os discípulos cumpriram as ordens de Jesus mas “não haviam compreendido o milagre dos pães” e “o seu coração estava endurecido” (Mar. 6:52), principalmente o de Judas.

O “vento era contrário” e o barco era “açoitado pelas ondas” (Mat. 14:24), de forma que todo o esforço era em vão e já se encontravam a quatro ou cinco quilômetros (João 6:19) de onde deveriam estar.

Após horas em alto mar sem conseguir chegar ao destino, no meio da madrugada Jesus foi até eles, andando sobre o mar. Essa não era a primeira vez que Deus andava sobre as águas, mas curiosamente todos os discípulos (Mar. 6:50) pensaram que se tratava de um fantasma.
Jesus, então, procura a melhor e mais completa maneira de se identificar e diz: “Sou eu” (Mat. 14:28). Pedro toma a frente e desafia dizendo algo que soou assim: “Já que és Tu, manda-me ir contigo, por sobre as águas”.

Um milagre acontece. Pedro caminha sobre o mar, mas não por muito tempo. A força do vento o faz ter medo e afundar. Naquele instante Pedro utiliza as três palavras mais poderosas para um ser humano: “Salva-me, Senhor”.
Jesus o socorreu e ambos entraram no barco, quando, então, o vento cessou. E todos os discípulos o adoraram dizendo: “Verdadeiramente és Filho de Deus!”

Enquanto não chega a coroação final, Jesus tem uma ordem para cada um de nós: entrar no barco. Você e eu não temos a opção de ficarmos ancorados na orla do mar ou estirados à beira da praia. Como cristãos recebemos a mesma ordem que os discípulos receberam: entrar no barco e navegar. Quando Deus não faz as coisas da maneira como esperamos, é comum O confundirmos com fantasmas e até mesmo duvidarmos que Ele é o Messias.

Ter fé não é necessariamente andar sobre as águas, mas não duvidar de Deus e
convidá-Lo a entrar no seu barco. Pedro sabia nadar (João 21:7), mas não pode se
salvar.

Quem nunca se sentiu vencido pelo cansaço de remar contra os ventos espirituais contrários? Ou teve medo dos fortes ventos desta vida? Ao invés de ficar com o coração contrariado, fique com Jesus no seu barco (ou na sua prancha ou nos seus esquis); assim você fica com o verdadeiro Salva-Vidas, os ventos cessam e uma vida cheia de sentido se inicia.

A vida cristã pode se tornar uma grande aventura radical se você cultivar a fé nEle e deixar Jesus assumir o comando da sua vida.

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