Faça o Que Eu Faço

domingo, agosto 17, 2008


“Feliz é o homem que não se condena naquilo que aprova” – Romanos 14:22

Recentemente o mundo ficou chocado com a história do austríaco Josef Fritzl, que aprisionou sua filha por 24 anos no porão da sua casa e teve sete filhos com ela. Em meio às reportagens sobre a descoberta, no entanto, uma das suas declarações me chamou a atenção: “Eu constantemente sabia, durante os 24 anos, que o que estava fazendo não era certo.”

Essa declaração me fez lembrar de um momento marcante durante as aulas de psicologia na faculdade. Falando sobre a natureza humana, certo dia, o professor resolveu fazer a pesquisa: “Quantos estão cientes de que fumar é prejudicial à saúde?” E praticamente todos levantaram a mão. Em seguida ele fez uma segunda pergunta: “E quantos de vocês fumam?” Talvez 60 a 70% dos que haviam respondido afirmativamente à primeira pergunta, levantaram a mão novamente.


A pergunta que fica é: se sabemos o que é o certo, por que não fazemos assim?


Essa característica do ser humano é tão reconhecida que gerou ditos populares como: “Faça o que falo, mas não faça o que eu faço” (em inglês, existe o dito “Talk the talk and walk the walk”).
Todas as pessoas desenvolvem uma escala de valores morais pelas quais pautam a sua opinião sobre o que é certo e o que é errado. Muito poderia se discutir sobre o que influencia esse processo, mas o nosso foco está sobre a observação de que mesmo tendo essas definições ainda não somos coerentes conosco.

Esses valores formam o nosso caráter e a nossa coerência diz respeito à nossa integridade como seres humanos. No entanto, quando não agimos de acordo com nossas crenças criamos um conflito interior, em primeiro lugar. E também criamos um conflito exterior através da comparação feita por outros entre o que “pregamos” e como agimos.

Portanto, a incoerência moral e ética entre as idéias defendidas, ensinadas e cobradas e o que é praticado pode ter um efeito corrosivo na sociedade, pois querendo ou não, são modelos sociais com um impacto significativo na população, seja no contexto familiar, profissional, religioso ou comunitário — a pedagogia do exemplo.

A Bíblia também fala sobre a incoerência humana. Na verdade todo o ministério de Jesus foi marcado pela observação crítica dos líderes religiosos, em busca de incoerências entre a pregação e a prática de Jesus, e o combate à hipocrisia dessas pessoas. Jesus chega a classificar os fariseus e os mestres da lei como sepulcros caiados, serpentes e raça de víboras. E orienta: “Obedeçam-lhes e façam tudo o que eles lhes dizem. Mas não façam o que eles fazem, pois não praticam o que pregam” (Mateus 23:3).

Já no final da Sua missão, reforçando a preocupação em serem coerentes, Jesus, após uma aula prática sobre humildade e liderança servidora para os seus discípulos, enfatiza: “Agora que vocês sabem estas coisas, felizes serão se as praticarem” (João 13:17).

Posteriormente, o apóstolo Paulo ao lidar com essa questão nos apresenta uma tendência natural do ser humano de ser incoerente e fazer coisas erradas. E ele mesmo confessa: “Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo” (Romanos 7:15).

No desenvolvimento da compreensão sobre a natureza humana Paulo volta a falar sobre essa incoerência mais tarde, sugerindo que há necessidade de uma clara definição e um forte desenvolvimento moral em cada pessoa, o qual se dá através da espiritualidade. Para Paulo, a vantagem é ser coerente porque: “Feliz é o homem que não se condena naquilo que aprova” (Romanos 14:22). Um dos meus versos bíblicos preferidos.

Um outro Paulo, o educador Paulo Freire, no nosso tempo reafirma a verdade bíblica dizendo: “É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal maneira que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática."

Hoje, valorizamos a honestidade ao ponto dela se tornar notícia amplamente divulgada, mas quando sabemos que alguém achou um pacote de dinheiro e entregou às autoridades, não acreditamos e até alguns reprovam a atitude.

Num momento em que o ser humano tem se apresentado incoerente, é hora de todos na sociedade atentarem para essa realidade, mas de forma especial aqueles que exercem autoridade política, social, religiosa, cultural e educacional. Não basta o alarme com os comportamentos irracionais e imorais, é necessário que mudemos de postura e apresentemos à sociedade a marca que deveria ser pertinente àqueles que desfrutam da racionalidade e da espiritualidade: a coerência.

Por: Marcelo E. C. Dias, pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia, em Artur Nogueira. Formado em teologia e administração de empresas. Concluiu o seu MBA na Califórnia, Estados Unidos, em 2003.


Deus na Fábrica – a nova tendência empresarial

“Nada há melhor para o homem do que comer, beber e fazer que a sua alma goze o bem do seu trabalho. No entanto, vi também que isto vem da mão de Deus.”
Eclesiastes 2:24

Em 1999, a revista americana Business Week apontou a presença crescente da espiritualidade no ambiente de trabalho. Segundo a revista, centenas de conferências sobre o assunto estavam sendo apresentadas e mais de dez mil estudos bíblicos e grupos de oração se reuniam nas empresas. Pouco tempo depois foi a vez das revistas Fortune e New York Times Magazine também atestarem da nova realidade.

Carolyn Corbin, presidente do Center for the 21st Century, prevê que essa tendência no mundo empresarial se acentuará. Segunda a economista, será cada vez mais importante que as companhias sejam faith-friendly ou promotoras da fé. Não só as empresas passarão a aceitar a fé das pessoas, mas encorajarão a espiritualidade no mundo dos negócios porque percebem várias vantagens nesse cenário.

Muitos dos desafios do ambiente de trabalho podem ser influenciados positivamente pela religião, como por exemplo:
1. Formação de líderes
2. Trabalho em equipe
3. Motivação para buscar a excelência
4. Problemas de relacionamento e reconciliação com os superiores e com os colegas
5. Não envolvimento em atividades ilegais
6. Furto de pertences da empresa
7. Ética no serviço ao consumidor
8. Justiça no trato com os empregados
9. Fofoca no ambiente de trabalho
10. Trato para com os inimigos
11. Atração extramarital no ambiente de trabalho
12. Atmosfera de trabalho que valorize o respeito e integridade

Trabalho e espiritualidade são palavras que, a princípio, definem realidades muito desconexas.
A maioria das pessoas divide a sua rotina em duas partes. De segunda a sexta para o trabalho, e então, o final de semana que inclui a religião. Apesar de o brasileiro considerar a fé muito importante (86% tem essa opinião segundo a revista Época) ir à igreja semanalmente é habito de somente 30% da população -- um programa para o fim de semana.

Mais recentemente, no entanto, tem-se descoberto que as duas realidades podem estar mais próximas do que se pensava. Melhor do que isso: elas podem coexistir e se complementar.
Nada disso deveria ser novidade. A Bíblia fala sobre o trabalho como uma realidade da vida. Logo nas primeiras páginas, no relato da Criação, a Bíblia fala sobre a atividade de Deus e o seu descanso no sétimo dia. Também encontra-se ali a ordem de Deus para que Adão trabalhasse. E a constatação de que após o pecado o trabalho se tornaria uma maldição aos seres humanos. Jesus mesmo trabalhou com o seu pai na carpintaria até os 30 anos, chamou doze trabalhadores para serem os seus discípulos e deixou uma missão que envolve bastante atividade para os seres humanos.

Das 132 aparições públicas de Jesus registradas no Novo Testamento, 122 delas foram em ambiente de trabalho. Das 52 parábolas que Jesus contou, 45 têm o contexto do ambiente de trabalho.

A Bíblia ainda fala que no Paraíso haverá algum tipo de trabalho.

O trabalho é mencionado na Bíblia mais de 800 vezes. Isso é mais do que todas as menções a adoração, louvor, música e canto. Na verdade as palavras trabalho e adoração, em hebraico, na Bíblia, têm a sua origem na mesma raiz, avodah, sugerindo que trabalhar é adorar.

Enquanto algumas empresas têm se tornado cada vez mais intolerantes à fé no ambiente de trabalho, a realidade do século 21 demonstra que a tendência é bem diferente. As pessoas não estão satisfeitas com o seu emprego e buscam um propósito para a vida. Já que 60% a 70% da vida é passada no trabalho, os empregadores que atentarem para essa necessidade certamente colherão as conseqüências positivas de trabalhadores mais satisfeitos.

Por outro lado, os trabalhadores deveriam ter sempre em mente o que um pregador certa vez disse: “Uma religião que não é boa na segunda, não é boa no sábado ou no domingo.”

Por: Marcelo E. C. Dias, pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia, em Artur Nogueira. Formado em teologia e administração de empresas. Concluiu o seu MBA na Califórnia, EUA, em 2003.

“Escolas de Voluntários” – Maximizando uma Grande Oportunidade

“Restitui-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito voluntário”
– Salmo 51:12


No mundo capitalista brasileiro da busca desenfreada pela vantagem, após décadas de desaparecimento, ressurge neste começo de século a importante figura do voluntário.

A melhor definição que eu encontrei sobre o voluntariado foi esta apresentada em estudo realizado na Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança, que coloca o voluntário como ator social e agente de transformação, que presta serviços não remunerados em benefício da comunidade; doando seu tempo e conhecimentos, realiza um trabalho gerado pela energia de seu impulso solidário, atendendo tanto às necessidades do próximo ou aos imperativos de uma causa, como às suas próprias motivações pessoais, sejam estas de caráter religioso, cultural, filosófico, político, emocional.

Como foi apresentado pela edição especial da revista Veja, de julho de 2003, “os jovens do século XXI continuam tão idealistas e dispostos a mudar o mundo quanto os dos anos 60. A diferença é que descobriram um caminho que não passa pela militância política: o do trabalho voluntário. Nos últimos cinco anos, a participação dos jovens em filantropia pulou de 7% para 34% em 400 entidades brasileiras. Mais de 8 milhões de jovens, com idade entre 15 e 24 anos, realizam alguma atividade voluntária. Estima-se que outros 14 milhões estejam interessados em fazer esse tipo de trabalho, mas não sabem como começar”.

Recentemente um outro estudo, o Índice de Participação Cidadã 2005, divulgado pela Rede Interamericana para a Democracia, afirmou que o Brasil é o líder em atuação da sociedade civil em questões coletivas na América Latina. No entanto, a explicação para o índice são os valores altos em indicadores como compromisso, militância, voluntariado, solidariedade e responsabilidade social, mas não quanto à legislação do país e a iniciativa política nesse sentido.

O pesquisador das Nações Unidas, Taryn Nelson, ainda aponta que “o voluntariado é uma grande oportunidade para a América Latina em termos econômicos, sociais e até políticos”. E conclui que “cada país latino-americano precisa urgentemente de uma política nacional de voluntariado”.

Portanto, a necessidade mais urgente é de que os governos participem formulando políticas em diferentes áreas apoiando as iniciativas cidadãs, tanto individuais como coletivas, e regulem a atuação social dessas pessoas, definindo direitos e deveres dos voluntários. Isso certamente aumentará os efeitos das ações voluntárias e motivará ainda mais a atuação da comunidade.

Por outro lado, não deveríamos nos esquecer que, antes de qualquer outra iniciativa, o voluntariado está intimamente ligado à religião. Na igreja cristã, isso tem sido sempre uma marca, um sinal de caridade e amor ao próximo, mandamento fundamental do cristianismo.

Jesus afirma o grande mandamento e confirma o caminho para a salvação, na Bíblia, em Marcos 12:30 e 31: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força. Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes”. (Outras referências a esse ensinamento, na Bíblia, são encontradas em Mateus 22:39, Marcos 12:31, Lucas 10:27, Romanos 13:8 e 9, Gálatas 5:14 e Tiago 2:8).

Nos últimos anos, também houve na igreja uma mudança na maneira de praticar o voluntariado, levando-a a abrir-se cada vez mais à universalidade das emergências da sociedade moderna, tanto que os voluntários a ela ligados estão, geralmente, nas primeiras fileiras desse trabalho.

Nas ações de voluntariado estão implícitos valores humanos despertados, ensinados e motivados pela Bíblia, como o altruísmo, a abnegação, a solidariedade, a bondade e o amor.

Estudos têm comprovado que o envolvimento religioso influencia grandemente a participação voluntária das pessoas na comunidade. Segundo uma dessas pesquisas, o convívio da igreja treina as pessoas para a participação na comunidade. Elas aprendem a interagir e negociar, a conduzir reuniões, a lidar com finanças e a falar em público, e tudo isso com ética e respeito. A freqüência à igreja faz com que as pessoas percebam que elas têm muito a oferecer à comunidade.

Um outro estudo em igrejas no Canadá demonstrou que as igrejas formam uma das mais importantes redes de recrutamento de voluntários na sociedade. Para muitas pessoas, a religião provê a motivação necessária para esse engajamento.

O altruísmo, reforçado pelo ideal, as crenças, os sistemas de valores, e o compromisso com determinadas causas são componentes vitais do voluntariado. Curiosamente o voluntário cresce emocional e espiritualmente porque, enquanto ajuda a melhorar a vida dos outros, realiza-se como ser humano e cumpre a vontade de Deus.

Portanto, poderíamos considerar as igrejas como verdadeiras “escolas de voluntários” na sociedade. E se assim não o são, deveriam ser.

Nestes dias (final de ano e início de um novo ano) em que a maioria das pessoas passa algum tempo refletindo, se deveria chegar a pelo menos uma conclusão: todos temos algo a contribuir com o próximo. O governo deveria atentar para a grande oportunidade que existe no pacífico exército voluntário do Brasil. As igrejas deveriam permanecer focadas na missão orientada pela Bíblia, enxergar o semelhante e se tornarem verdadeiras “escolas de voluntários”.

Nesta virada de ano, por que não fazer um propósito de seguir o exemplo daquele que fez o maior ato de voluntariado da história do Universo, Deus, ao entregar espontaneamente o Seu Filho, Jesus Cristo, para nascer neste mundo e Se entregar como o Salvador da humanidade (João 3:16).

Por: Marcelo E. C. Dias, pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia, em Artur Nogueira. Formado em teologia e administração de empresas. Concluiu o seu MBA na Califórnia, EUA, em 2003.

Os "Terríveis" Filhos de Pastor