“Restitui-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito voluntário”
– Salmo 51:12
No mundo capitalista brasileiro da busca desenfreada pela vantagem, após décadas de desaparecimento, ressurge neste começo de século a importante figura do voluntário.
A melhor definição que eu encontrei sobre o voluntariado foi esta apresentada em estudo realizado na Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança, que coloca o voluntário como ator social e agente de transformação, que presta serviços não remunerados em benefício da comunidade; doando seu tempo e conhecimentos, realiza um trabalho gerado pela energia de seu impulso solidário, atendendo tanto às necessidades do próximo ou aos imperativos de uma causa, como às suas próprias motivações pessoais, sejam estas de caráter religioso, cultural, filosófico, político, emocional.
Como foi apresentado pela edição especial da revista Veja, de julho de 2003, “os jovens do século XXI continuam tão idealistas e dispostos a mudar o mundo quanto os dos anos 60. A diferença é que descobriram um caminho que não passa pela militância política: o do trabalho voluntário. Nos últimos cinco anos, a participação dos jovens em filantropia pulou de 7% para 34% em 400 entidades brasileiras. Mais de 8 milhões de jovens, com idade entre 15 e 24 anos, realizam alguma atividade voluntária. Estima-se que outros 14 milhões estejam interessados em fazer esse tipo de trabalho, mas não sabem como começar”.
Recentemente um outro estudo, o Índice de Participação Cidadã 2005, divulgado pela Rede Interamericana para a Democracia, afirmou que o Brasil é o líder em atuação da sociedade civil em questões coletivas na América Latina. No entanto, a explicação para o índice são os valores altos em indicadores como compromisso, militância, voluntariado, solidariedade e responsabilidade social, mas não quanto à legislação do país e a iniciativa política nesse sentido.
O pesquisador das Nações Unidas, Taryn Nelson, ainda aponta que “o voluntariado é uma grande oportunidade para a América Latina em termos econômicos, sociais e até políticos”. E conclui que “cada país latino-americano precisa urgentemente de uma política nacional de voluntariado”.
Portanto, a necessidade mais urgente é de que os governos participem formulando políticas em diferentes áreas apoiando as iniciativas cidadãs, tanto individuais como coletivas, e regulem a atuação social dessas pessoas, definindo direitos e deveres dos voluntários. Isso certamente aumentará os efeitos das ações voluntárias e motivará ainda mais a atuação da comunidade.
Por outro lado, não deveríamos nos esquecer que, antes de qualquer outra iniciativa, o voluntariado está intimamente ligado à religião. Na igreja cristã, isso tem sido sempre uma marca, um sinal de caridade e amor ao próximo, mandamento fundamental do cristianismo.
Jesus afirma o grande mandamento e confirma o caminho para a salvação, na Bíblia, em Marcos 12:30 e 31: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força. Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes”. (Outras referências a esse ensinamento, na Bíblia, são encontradas em Mateus 22:39, Marcos 12:31, Lucas 10:27, Romanos 13:8 e 9, Gálatas 5:14 e Tiago 2:8).
Nos últimos anos, também houve na igreja uma mudança na maneira de praticar o voluntariado, levando-a a abrir-se cada vez mais à universalidade das emergências da sociedade moderna, tanto que os voluntários a ela ligados estão, geralmente, nas primeiras fileiras desse trabalho.
Nas ações de voluntariado estão implícitos valores humanos despertados, ensinados e motivados pela Bíblia, como o altruísmo, a abnegação, a solidariedade, a bondade e o amor.
Estudos têm comprovado que o envolvimento religioso influencia grandemente a participação voluntária das pessoas na comunidade. Segundo uma dessas pesquisas, o convívio da igreja treina as pessoas para a participação na comunidade. Elas aprendem a interagir e negociar, a conduzir reuniões, a lidar com finanças e a falar em público, e tudo isso com ética e respeito. A freqüência à igreja faz com que as pessoas percebam que elas têm muito a oferecer à comunidade.
Um outro estudo em igrejas no Canadá demonstrou que as igrejas formam uma das mais importantes redes de recrutamento de voluntários na sociedade. Para muitas pessoas, a religião provê a motivação necessária para esse engajamento.
O altruísmo, reforçado pelo ideal, as crenças, os sistemas de valores, e o compromisso com determinadas causas são componentes vitais do voluntariado. Curiosamente o voluntário cresce emocional e espiritualmente porque, enquanto ajuda a melhorar a vida dos outros, realiza-se como ser humano e cumpre a vontade de Deus.
Portanto, poderíamos considerar as igrejas como verdadeiras “escolas de voluntários” na sociedade. E se assim não o são, deveriam ser.
Nestes dias (final de ano e início de um novo ano) em que a maioria das pessoas passa algum tempo refletindo, se deveria chegar a pelo menos uma conclusão: todos temos algo a contribuir com o próximo. O governo deveria atentar para a grande oportunidade que existe no pacífico exército voluntário do Brasil. As igrejas deveriam permanecer focadas na missão orientada pela Bíblia, enxergar o semelhante e se tornarem verdadeiras “escolas de voluntários”.
Nesta virada de ano, por que não fazer um propósito de seguir o exemplo daquele que fez o maior ato de voluntariado da história do Universo, Deus, ao entregar espontaneamente o Seu Filho, Jesus Cristo, para nascer neste mundo e Se entregar como o Salvador da humanidade (João 3:16).
Por: Marcelo E. C. Dias, pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia, em Artur Nogueira. Formado em teologia e administração de empresas. Concluiu o seu MBA na Califórnia, EUA, em 2003.
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